Hoje em dia grande parte das pessoas associa o Feng Shui ao estudo da energia no interior de uma casa, mas na verdade a origem desta arte baseia-se no estudo do fluxo energético da Natureza. Portanto, o que a maioria das pessoas não sabe, é que a envolvente de um espaço influencia em cerca de 70% a energia do seu interior.

Os nossos ancestrais tinham um grande cuidado, respeito e reverência em relação à Natureza, e como tal sabiam da extrema importância de encontrar um local na sintonia perfeita com a Mãe Terra para instalarem as suas povoações e a partir daí uma criarem uma vida mais próspera.

Mas as sociedades foram evoluindo e com elas cresceram também as cidades. A rápida urbanização acarretou transformações nas cidades que foram desrespeitando o ambiente natural e tornaram-se em grandes problemas não só para a Mãe Terra como para as vidas dos seus habitantes.

As cidades foram sendo construídas sem grande planeamento e foi-se perdendo a sintonia com a Mãe Terra, com o espírito do local e com a poderosa energia que emana de todas as formas naturais. Os prédios foram ocupando o lugar das montanhas e as estradas dos rios, por isso, grande parte do trabalho de um consultor hoje em dia é corrigir a influência menos positiva deste fluxo.

Mas em algumas grandes cidades do Oriente, nomeadamente em Hong Kong, o Feng Shui é levado muito sério. Hong Kong é banhada pelo mar e dá as costas a uma montanha o que, de acordo com o Feng Shui, significa que é uma cidade naturalmente beneficiada pela maneira como a energia flui.

Em Hong Kong podemos encontrar prédios com portais que possibilitam a passagem do espírito da montanha. Ou à porta de alguns edifícios a presença de animais guardiões protegendo as suas entradas e simbolizando prosperidade. Ou ainda algumas construções que convidam o vento e a boa energia a entrar.

Pela negativa também encontramos alguns exemplos como é o caso do famoso edifício de um banco que, por ter uma forma angular, emana uma energia cortante para os prédios vizinhos. Para corrigir a influência negativa deste prédio foi colocada uma pequena cascata, algumas pedras e muita vegetação.

Em 1995 Donald Trump descobriu também os benefícios do Feng Shui e incorporou estas técnicas nos seus negócios imobiliários com os chineses. Exemplo disso é a Trump Tower em Nova York, onde foram tomadas algumas medidas para contornar a influencia negativa da energia da estrada, tal como a colocação do globo que se encontra no exterior do edificio.

Na história da arquitetura temos ainda o exemplo de Frank Lloyd Wrigth, esse grande visionário que, embora não aplicasse as regras de Feng Shui, resgatou para a arquitetura moderna a importância da sintonia entre os edifícios e a natureza, e despertou as consciências para uma arquitetura mais orgânica. Ele acreditava que todos os edifícios deveriam ser únicos, de acordo com sua localização, devendo estar em harmonia com o ambiente envolvente, como se tivessem brotado naturalmente do solo como um organismo vivo. Uau!

“Um edifício bom não é o que fere a paisagem, mas sim aquele que a torna mais bonita do que era antes dele ser construído”
– Frank Lloyd Wright

Na prática, para um bom Feng Shui urbano é fundamental ter uma vista agradável e nutridora. Observar a forma e a localização onde uma habitação se encontra é decisivo pois é tudo aquilo que não vamos conseguir mudar, embora possa ser corrigido.

Devemos evitar edifícios degradados, hospitais, lixeiras ou cemitérios pois emanam uma energia débil que irá afetar as habitações envolventes. A evitar são também os edifícios angulares ou as esquinas direcionadas para as nossas habitações. Outra coisa a ter ainda em conta é o ruído, o tipo de estradas, a orientação cardeal e a geologia do terreno.

No entanto há coisas que podem influenciar positivamente as nossas casas, tais como as escolas com a sua energia de vitalidade e sabedoria, ou as zonas verdes que nutrem e regeneram toda a atmosfera envolvente.

Eu acredito num sistema integrado e holístico, onde o Homem e a Mãe Terra fazem parte de um todo. Eles não são separados, estão conectados e têm o poder de se transformar mutuamente.

Cabe a cada um de nós resgatar a sabedoria ancestral sobre o cuidado, respeito e reverência em relação à Mãe Terra, começando dentro e fora das nossas casas, em cada escolha que fazemos. E voltar as transformações para dentro de nós e da casa como espelho do nosso interior, que é onde na verdade a grande alquimia da vida acontece.

Artigo para Feng Shui Magazine nº1